Metrópoles
Ao mesmo tempo em que cancelou 51 rotas nacionais alegando crise financeira, a Azul ou a priorizar voos internacionais. A companhia aérea deixou de voar para 16 cidades brasileiras em 2025, muitas das quais contavam exclusivamente com a Azul como opção. Paralelamente, a empresa expande sua rota internacional com anuência do governo Lula.
Nas duas últimas semanas, a Azul iniciou voos diretos de Recife para Porto (Portugal) e Madrid (Espanha), ambos com origem na cidade do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, que tem liderado politicamente a iniciativa. Não há contrapartida para que a companhia retome voos pelo Brasil.
Também foi lançada a rota entre Viracopos (Campinas) e Porto. Segundo a imprensa especializada, a companhia ainda pretende iniciar, em julho, voos de Belo Horizonte para os Estados Unidos, com destino a Orlando e Fort Lauderdale.
Enquanto isso, a Azul cancelou rotas em capitais como Aracaju são Paulo; Belém– Brasília; Belém– Boa Vista; Belém–São Paulo; Belém–Natal, entre outras.
“O novo voo é fruto de uma articulação conjunta entre o Ministério dos Portos e Aeroportos, o Ministério do Turismo (MTur), a Embratur, o Governo do Estado de Pernambuco e a Prefeitura do Recife”, informou o comunicado oficial do lançamento do voo para Porto mencionando três órgãos do governo federal.
“Se não fosse pelo apoio e envolvimento de todos vocês nesse processo, não teríamos alcançado este marco”, expôs o gerente de Relações Institucionais, Regulatório e Tributário Sênior da Azul, César Grandolfo.
Mudança de foco foi autorizada pela Anac
Os aviões e as tripulações das rotas internacionais não pertencem à Azul. A empresa firmou parceria com duas companhias aéreas estrangeiras — a euroAtlantic Airways e a HiFly, ambas portuguesas.
Executivos do setor afirmam que essa manobra seria uma forma de introduzir as estrangeiras no mercado brasileiro sem a devida certificação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A parceria foi autorizada pelo órgão regulador. Dos cinco diretores da Anac, quatro são substitutos. Os nomes já foram indicados pelo presidente Lula, mas o Senado sentou em cima.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) reproduziu essa posição em nota de repúdio:
“A empresa europeia obteve autorização da agência reguladora para operar no Brasil. No entanto, a ‘parceria’ firmada pela Azul, sob a justificativa de ‘garantir a integridade de sua malha aérea durante a alta temporada’, é apenas uma cortina de fumaça para encobrir a concessão de rotas a uma companhia estrangeira”, afirmou o sindicato.
E complementou:
“O SNA lamenta que a Anac seja conivente com esse tipo de operação que, além de prejudicar gravemente a aviação brasileira e os trabalhadores do setor, também compromete a segurança dos ageiros — já que as agens são vendidas pela Azul, mas os voos são operados por outras companhias.” Diante do cenário, o sindicato ingressou com ação judicial para tentar barrar a operação.
Medida visa eficiência e competitividade, diz Azul
Em nota, a Azul informou que é uma empresa de mercado e de capital aberto e “tem como um de seus compromissos a eficiência operacional e a competitividade no setor aéreo, promovendo regularmente otimizações no seu planejamento de malha”.
“Todas as mudanças fazem parte de processos normais de ajuste de mercado, e são cuidadosamente avaliadas para garantir a sustentabilidade das rotas da Companhia, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda, sem comprometer a reconhecida qualidade dos serviços que a Azul oferece aos seus Clientes”, informou.
“Da mesma forma, a Companhia segue comprometida com a expansão estratégica de sua malha internacional, conforme demanda, reforçando a presença da Azul no exterior, ao mesmo tempo em que amplia as opções de conexões para os Clientes”, acrescentou.
Em março, John Rodgerson, CEO da companhia, disse em entrevista que o esforço da empresa “é para ensinar as pessoas a amarem mais o Brasil, conhecer mais o Brasil”.
“Eu sempre falo que é uma vergonha se você já levou seu filho para a Disney três vezes, mas não para ver as cataratas. E se você levou seu filho para Nova York, mas nunca viu o Amazonas. É uma vergonha se você já foi para Portugal ou para Buenos Aires, mas ainda não foi para Noronha”, afirmou.
Foz do Iguaçu, Fernando de Noronha e Manaus (AM) estão entre as rotas canceladas pela Azul.